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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O Sonho.



Essa noite eu sonhei que o Brasil foi dividido.
No sonho os soldados do “Coronel dos Telhados” e “Romeu Toma no Jr.” com o apoio da
metade da população invadiam as casas verificando os documentos de identificação de todos,
quem não era do seu estado de origem era deportado pra sua terra natal e os naturais eram
obrigados a permanecerem em seus estados, dessa forma eu fui separado da minha esposa e
ficando com minha filha que havia nascido em São Paulo.

Um outro grande exercito construía um imenso muro semelhante a muralha da China que se
iniciava na fronteira do Mato Grosso passando por Goiás, Minas Gerais acabando somente no
litoral do Espírito Santo isolando esses estados e Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul criando um novo país que foi chamado de “A ordem dos Sulistas”
todos os estados acima do muro virou outro país que recebeu o nome de “Nordeste”.

Eu queria ir pro país Nordeste, mas o controle no muro era extremamente rigoroso e não
permitia a entrada de ninguém cuja origem não fosse nordestina e ao mesmo tempo tinha
muita gente do Sul voltando do Nordeste. Naquele momento estabelecia uma nova ordem,
Sulistas não mais teria contato com nada que fosse do Nordeste, eu fiquei preso no novo país
com minha filha e sem minha esposa. O coração doeu. Eu não conseguia acordar.
No país “A ordem dos Sulistas” existia regras para tudo. Todo dia passava um ônibus às cinco
horas da manhã para recolher os trabalhadores e leva-los para os empregos, a grande maioria
trabalhava em prédios fechados e ventilados somente por ar condicionado, só saímos na hora
do almoço, esse intervalo era de uma hora e no período da tarde tínhamos quinze minutos
para tomar café. Geralmente voltávamos para casa às vinte horas e trinta minutos, os
televisores eram pré-programados para ficar em um único canal onde tínhamos que assistir o
Telejornal e a novela que passava em seguida. No dia seguinte éramos obrigados a apresentar
um relatório das noticias e o resumo da novela, tudo isso era feito através de um post
monitorado nas nossas redes sociais que podíamos acessar por dez minutos antes da jornada
de trabalho. Uma vez por semana tinha um programa de humor, onde o apresentar sorteava
algum cidadão para ser humilhado em rede nacional provocando gargalhadas dos futuros
humilhados.

 Não existiam mais construções de estradas, prédios, parques, casas nem músicas animadas e
comidas com bons temperos. Passávamos dias fazendo relatórios de procedimentos. Duas
vezes por semana tínhamos que assistir a fanfarra da Policia Militar com o “Coronel dos
Telhados” tocando seus instrumentos e em seguida cantávamos o novo hino nacional que
tinha palavras como “ordem, cidadão de bem, mulher foi feita pra servir, família de Deus” –
não consigo lembrar mais nada, só sei que era horrível sem ritmo e sem poesia.

As crianças estudavam em tempo integral e não pediam bênçãos aos pais e avós, elas batiam
continência em seguida colocava a mão no peito e resmungavam algumas palavras
relacionadas à pátria. Eram perfeitos estranhos dentro das casas, sempre lendo livros de leis
sem ilustrações e cores, o semblante delas eram tristes com olhos fundos e pele pálida, não
sorriam, quando os dentes ficavam amostra percebia um amarelado estranho.

Cada dia mais percebia que o país estava ficando cinza, as águas dos rios sujas impossível de se
beber, mas bebíamos. O mar também era cinza refletindo o céu. Nossos almoços eram Fast
Food e refrigerantes com muito gás. Nos campeonatos de futebol sempre o mesmo time
ganhava que era do “Sr. Romeu Toma no Jr.” e todos torciam para este time até os que
jogavam contra. Não existia sotaque, todos falavam as mesmas palavras, sem gíria e sem
linguajar típico.

No final do sonho lembro que fui mandado para o muro que separava o país com a missão de
fazer um relatório onde informava as condições físicas do muro. Existia uma grande mata
antes de chegar nele, por ali o ar era limpo, olhando pro céu reparei como o lado do
“Nordeste” o céu era azul e limpo. Já do outro lado ouviam-se gargalhadas e músicas ritmadas.
Deu pra ouvir o som de muita criança correndo e gritando ignorando a presença do muro, eles
se divertiam – pelo menos era o que aquelas gargalhadas denunciavam. O muro estava intacto
nenhuma tentativa de invasão, tudo perfeito.

Eu gritei:

- Ei, tem alguém ai?

- Tem sim – uma voz doce de criança respondeu.

- Como é ai?

- Aqui? Aqui é lindo.

Eu acreditei. Lembrei que crianças não metem.

- Ei você do lado cinza. Vem pra cá!!

- Vocês me aceitariam.

- Claro. Vem moço.

Um suspiro. Estou todo suado. Acordei.

[ Mano Ril ]

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