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quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015
Imortal
Hoje é um bom dia pra chorar. Tivesse eu acreditado que tudo acaba quando a tampa se fecha
cobrindo todo o corpo, após a última prece, as lágrimas e o soluço descompassado, mas não é
ai que acaba. A imortalidade existe e esta presente em casa pulsação do relógio. Somos
imortais. Para alguém somos imortais.
Faz cinco anos que Dona Anita tornou-se imortal, a presença em nossas vidas esta nos cheiros
que vinha dela, nas falas e ainda posso sentir o gosto do tempero da comida preparada com
amor. Nos olhos entristecidos em reprovação por alguma malcriação do filho moleque levado,
quase todos os dias ainda presencio o andar lento com as mãos carregando sacolas cheias e
pesadas. Passo a passo. Lento. Te fez imortal. Imortal porque nunca nos permitiremos
esquecer um dia sequer da tua lavoura, o que plantou foi amor e essa colheita também será
eterna. Claro que vai. E quando for a minha vez de ser imortal terá alguém sentindo a minha
presença e por ventura a tua também, acho que isso se chama continuação...
Nessa meia década assisti, digeri e ouvi gente que não inspira em nada, fiquei quieto, silêncio.
Respeitei. Mas vomitei todas elas para não serem imortais em mim, pois a imortalidade é uma
faca de dois gumes, luz e treva, amor e ódio e hoje escolho o que quero do meu lado. Poder
aprender com as lágrimas me fez homem forte, quase sem sentimento. Quase.
Saber que essa matéria que levamos pra todos os cantos enfeitada com broches, anéis,
óculos, camisas, calças, vestidos caros, carros, motos tudo isso acaba, vira cinza. Saber que
dinheiro, casas, joias e perfumes de grife não te torna imortal. Cometo a audácia de dizer que
a imortalidade esta na simplicidade do soprar do vento. Mãe a senhora é vento, quase uma
brisa, serena. Imortal.
E quando repouso cansado sinto essa brisa tocando em mim. Levemente. Quase
imperceptível. Porque percebo que deve existir alguma lei da balança na vida, conquisto
algumas coisas de um lado e quando olho pro oposto estou perdendo. Perdendo lentamente.
Me sopre brisa, não deixe eu perder.Me diz que não fui criado pra socializar mesmo, diz que
eu não sei fazer política e nem forçar a amizade pra conquistar seja lá o que for, me sopre e diz
que eu é que sou o certo e que o mundo esta todo errado.
Em meio a sua imortalidade hoje dia 02 de dezembro de 2014 eu só queria me desligar,
desconectar, descansar e esquecer-me em um abraço de Silvia e Mayara.
Hoje é um bom dia pra chorar.
[ Mano Ril ]
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