Desculpe por eu ser desse jeito, desculpa por ter adotado esse tipo de vida que não permite estar mais tempo com você. Meu irmão não é tentando justificar, é que a vida aqui é uma grande merda, todo mundo trabalha muito e não tem tempo pra nada, pra ninguém e quase nunca pra nós mesmos e muito menos pra cuidar um do outro, são coisas que você não entende por que não teve tempo de absorver desse mundo aqui de fora. A gente se mata aos poucos e sem perceber, em alguns casos sobrando somente os fins de semana pra sobreviver.
Dri, depois que a mãe nós deixou eu percebi você mais lúcido, parece que entendia melhor as coisas ignorando a paralisia cerebral. Deus não operou um milagre em você, fazendo-o levantar dessa cadeira de rodas e caminhar até aqui pra brincar com a Mayara e a gente conseguir trocar algumas palavras tomando cerveja e sorrindo, ou talvez ele tenha feito o milagre de alguma forma que eu com a minha ignorância não posso entender.
Você é exemplo pra todos nós, aqui reclamamos de tudo, do ônibus, do salário, da marmita, do trabalho, vivemos para reclamar e ser mal humorado enquanto você ai totalmente limitado, não nega um sorriso nunca, nem pra brincadeira mais tola e infantil. Se algum parente ou amigo demora a nos visitar ou não manda convite para alguma festa já fechamos a cara e cortamos relação, você não, você sempre nos recebe com sorrisos. Você é especial meu irmão.
Toda vez que vou ai te visitar sempre digo que é um soco no estômago da vaidade, e consigo voltar dando valor mais ainda nas coisas e pessoas que me rodeiam, porém sou falho, em poucos dias o estômago sara e a vaidade volta. Desculpa. O tempo vai passando e este espaço que seria seu nunca estará preenchido, você não viu minha formatura, não estava ao meu lado quando aprendi a dirigir, não viu o Pensamento Negro no palco, não foi ao meu casamento e não veio visitar a Silvia quando a Mayara nasceu. Eu sei que sou covarde por ter que deixar você ai, mas não teria como garantir todos os cuidados que por ser especial você necessita, a mãe deve ter partido com a mesma culpa, peço desculpas por ela também.
Adriano te escrevo essa carta por que esse costume foi perdido no tempo, e nós só demonstramos sentimentos de carinho pelos nossos quando os perdemos pro tempo ou pra vida. Irmão termino essa carta tendo a certeza que você não ira lê-la, mas eu precisa escrever, de certa forma a escrita tem esse poder de eternizar momentos, o seu nome não estará no Haal da Fama, porém entre todos os ensinamentos que a vida insisti em entregar-me, o professor mais sábio é você. Espero pode dar mais valor à vida. Espero vê-lo em breve.
Um abraço com amor do seu irmão.
ManoRil
( "Cartas aos meus" é uma série de cartas que escrevi para várias pessoas que nos acompanham de perto ou de longe, amigos, parceiros, irmãos... E reticências.)
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