Total de Guerreiros e Guerreiras que passaram por aqui

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Utopia



Mas, e se a economia quebrar?
E daí? Se isso acontecer a gente faz uma fogueira e sentamos ao redor, vamos assar milho,
batata doce e tomar vinho seco. Deixe os ricos se preocuparem com isso, a gente sabe ser feliz
com pouco dinheiro, eles não.

Essa bolsa que vive subindo e descendo não muda nada pra gente, por mim que derreta as
ações dos grandes empresários, to nem vendo. E se a gente perder o emprego por causa disso
pouco importa, podemos ser explorados em outro lugar, por outro explorador e assim vai até
eles se juntarem com a gente e todo mundo viver na humildade, porque riqueza pra todos não
vai ter mesmo, e outra coisa: Eu é que não quero ser rico.

Já reparou como as coisas deles são tudo depressivas, a gente que é feliz e ainda não
percebemos. Deixa eles pensarem que esta bom, daqui a pouco estarão batendo nas nossas
portas querendo saber como é que se vive de verdade,  e aos que estão no empenho de se
tornarem os novos ricos perdendo dignidade, usando de falcatruas e malabares covardes, a
gente vai rir muito de vocês, só espero que não fiquem chateados e tomem alguns goles de
vinho também enquanto a gente lembra de como você se vendia e se achava o mais esperto
por ter enganado alguém mais humilde que você.

Nós somos uma afronta em tentar viver aqui, os ricos não querem a dividir os mesmos espaços
com a gente. É que nós somos folgados, se não nós pegaríamos nossas traias e caminhava pro
sertão. E quer saber? Lá que é vida, sem poluição, sem caos, sem shopping. Ruas de terra,
cavalo pra andar, e moda de viola pra escutar deixando o tempo passar olhando pro céu.
Olhando pro céu mais lindo que existe com as estrelas se exibindo sem ser ofuscada pelas
luzes da cidade, ai sim o favelado iria olhar pro céu.

Nessa marcha do progresso a gente só fica com as sobras e vamos se achando os inclusos no
mundo da tecnologia, deixamos de ser bestas e vamos ser caipira que é o melhor pra nós. Se
for isso que eles querem, então que fiquem aqui. Que se afundem aqui. Que se matem aqui. A
gente é que não quer mais, não precisamos disso pra viver. Que se lasque a economia, a bolsa
de valores e o mercado de trabalho, a política, as negociações e suas tramoias. Que se lasque
tudo. Não precisam colocar fogo nas favelas pra construir seus prédios. Estamos indo embora
tomar banho de rio e comer fruta direto do pé, que se virem para arrumar mão de obra
barata, estamos fazendo o caminho inverso dos nossos pais. Vamos voltar pro reino encantado
e nunca mais voltar pra cá e nem deixar ninguém destruir lá.

Bom, vou bater o ponto ali se não atraso a volta do almoço e vou ter desconto no salário. Mas
fique tranquilo, se a economia quebrar, pra gente fica tudo tranquilo. Um abraço meu caro.

[ Mano Ril ]

Ontem

Mãe,
Ontem nos reelegemos a Dilma para mais um mandado de presidente do Brasil, a senhora iria
sentir orgulho de ver. O teu nordeste que levantou as grandes metrópoles com mão de obra e
sem preguiça fez bonito, a Dilma ganhou em todos os estados de lá inclusive na sua Bahia.
Depois do resultado apareceu um monte de gente xingando nosso povo, um xingo mais feio
que outro, dizendo que tem que separar o nordeste do resto país, que só tem burro e
miseráveis vivendo do bolsa família, uma tristeza mãe. O problema deles é que agora a gente
pode viajar de avião, comprar carro, ter casa própria, fazer curso técnico e até faculdade, se
tudo caminhar dessa forma daqui alguns anos nenhum de nós será explorado pela classe rica,
essa é a revolta deles.

Nessas eleições participei ativamente a favor da Dilma, fizeram tanta sacanagem para derrubar
o governo dela, soltaram revista dizendo que eles sabiam de um esquema de corrupção na
Petrobras, a revista tinha uma capa maléfica e virou panfleto de luxo do candidato da classe
burguesa, todos nós ficamos revoltados com isso pedimos para eles apresentarem as provas,
mas até agora nada mãe, nem o advogado do cara que esta denunciando todo esquema de
corrupção sabe desse depoimento. A revista teve que se retratar e publicar um direito de
resposta da Dilma. Bem feito. No Domingo de manhã recebemos a noticia de que haviam
matado o delator envenenado na carceragem da Policia Federal, outra mentira, o cara tinha
passado mal por problemas no coração e esta bem. Deve ter eleitor pensando que ele esta
morto até agora.

Falaram muito de corrupção, falaram daqueles canalhas que desde sempre rouba os cofres
públicos, aqueles que roubam o dinheiro da merenda escolar, da saúde, do transporte... A
única diferença pra sua época é que eles não eram investigados e presos, hoje não. Hoje estão
indo pra cadeia, perdendo mandato e passando vergonha em rede nacional, mas ainda tem
muita canalha pra ser preso, principalmente aqui em São Paulo.  O lado bom é que por parte
do governo federal não terá mais arquivamentos pra corruptos.

Mãe nessa eleição nosso povo mostrou que não é bobo, sabe por quê?
Porque o outro candidato encheu a propaganda dele de artistas que a maioria da população
gosta, inclusive alguns que a senhora admirava. Não ganhamos apenas deles, ganhamos do
Luciano Huck – aquele do programa “H” que tinha a tiazinha -, ganhamos do Romário, do
Ronaldo, Zezé Di Camargo, Wanessa Camargo, Bruno e Marrone, Chitãozinho e Xororo, até o
menino Neymar embarcou nessa onda e declarou o voto. Mas o recado foi bem dado e que os
artistas fiquem sabendo que nossa opinião política jamais será iludida pelos rostos maquiados
ou pelos dribles de futebol deles.

Finalmente o povo resolveu debater política e como somos novos nisso, voou lasca pra tudo
que foi lado. Era favelado falando como se fosse da classe média, dizendo que o Brasil vai virar
Cuba. Eu vi uns carros populares financiados em 60 vezes com uns adesivos grandão do outro
candidato. Senti cheiro de traição, mas não xinguei, eu aceitei. Nas minhas redes sociais tenho
um número considerável de seguidores por conta do trabalho que faço hoje com o Rap e com
a Poesia, li muita coisa triste falando do nosso povo, mas não exclui nem bloqueei ninguém.
Não quero viver em uma bolha e achar que todos pensam igual a mim quando sei que não é
verdade. Mãe me xingaram de safado, traidor e outras coisas que a senhora não gostaria de
saber, fiz o papel de afrontador e alguns saíram delas automaticamente. Penso que eles não
iram fazer a mínima falta, nunca gostei de racista, homofóbico, fanático religioso e xenófobo.

A senhora deve estar achando esses nomes estranhos é que na sua época a gente chamava
esse povo de racista e só, mas a coisa anda tão séria que o racista foi dividido em classes e
classificado.

Mãe eu tenho um certo pé atrás com políticos como a senhora bem sabe, elegemos a Dilma e
estão enganados aqueles que acham não iremos pra rua cobrar. Iremos sim e com mais gosto
e força porque nós sabemos que no governo dela existi o dialogo e sabemos que muita coisa
precisa mudar e melhorar. Eu nasci pra lutar mãe, esse é o meu destino sem saber a senhora
me preparou pra isso. A Mayara vai viver em um país melhor, um pouco mais justo, com
oportunidades e preparado para aceitar ela do jeito que ela quiser ser.
Muitos ricos estão dizendo que vai embora pra Orlando, Miami, Roma, Espanha... Dizem que
aqui não da pra viver mais. Eu lhes desejo boa viagem e que não voltem. A gente continua
morando em São Paulo, mas também estamos pensando em viajar, fazer o caminho inverso e
ir embora pro nordeste, talvez voltar pra Bahia. São Paulo é muito cinza e não combina mais
com nosso brilho. Por hora vamos continuar brilhando por aqui só pra provocar.

Mãe desculpa por ter encher com esse papo chato de política é que eu precisa escrever tudo
que passamos nesse processo eleitoral tão disputado. E quando vi a Dilma discursando lembrei
da senhora, porque a Dilma é mulher, é uma representante de vocês em um meio machista
que é a política. E todas as mulheres hoje devem sentir muito orgulho disso e que todas vocês
tomem mais conta ainda de tudo e façam valer sua força e presença. Quando a senhora nos
deixou foi um divisor de águas na minha vida e agora teve mais um e já sei que é quem. Ah, já
faz um tempo que as empregadas domésticas não são exploradas e as filhas delas não serão
suas substitutas, pois estão estudando. Isso é bonito né?

O nordeste também está lindo e todos estão com a vida um pouco melhor e nos enchendo de
orgulho. Fique tranquila mãe eu não me importo com o que os ricos dizem nem com os xingos
deles e muito menos com os xingos da nova classe média. Mãe. Estou bem e feliz já posso
voltar a publicar minhas poesias. Peço a sua benção.


[ Mano Ril ]

O Sonho.



Essa noite eu sonhei que o Brasil foi dividido.
No sonho os soldados do “Coronel dos Telhados” e “Romeu Toma no Jr.” com o apoio da
metade da população invadiam as casas verificando os documentos de identificação de todos,
quem não era do seu estado de origem era deportado pra sua terra natal e os naturais eram
obrigados a permanecerem em seus estados, dessa forma eu fui separado da minha esposa e
ficando com minha filha que havia nascido em São Paulo.

Um outro grande exercito construía um imenso muro semelhante a muralha da China que se
iniciava na fronteira do Mato Grosso passando por Goiás, Minas Gerais acabando somente no
litoral do Espírito Santo isolando esses estados e Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul criando um novo país que foi chamado de “A ordem dos Sulistas”
todos os estados acima do muro virou outro país que recebeu o nome de “Nordeste”.

Eu queria ir pro país Nordeste, mas o controle no muro era extremamente rigoroso e não
permitia a entrada de ninguém cuja origem não fosse nordestina e ao mesmo tempo tinha
muita gente do Sul voltando do Nordeste. Naquele momento estabelecia uma nova ordem,
Sulistas não mais teria contato com nada que fosse do Nordeste, eu fiquei preso no novo país
com minha filha e sem minha esposa. O coração doeu. Eu não conseguia acordar.
No país “A ordem dos Sulistas” existia regras para tudo. Todo dia passava um ônibus às cinco
horas da manhã para recolher os trabalhadores e leva-los para os empregos, a grande maioria
trabalhava em prédios fechados e ventilados somente por ar condicionado, só saímos na hora
do almoço, esse intervalo era de uma hora e no período da tarde tínhamos quinze minutos
para tomar café. Geralmente voltávamos para casa às vinte horas e trinta minutos, os
televisores eram pré-programados para ficar em um único canal onde tínhamos que assistir o
Telejornal e a novela que passava em seguida. No dia seguinte éramos obrigados a apresentar
um relatório das noticias e o resumo da novela, tudo isso era feito através de um post
monitorado nas nossas redes sociais que podíamos acessar por dez minutos antes da jornada
de trabalho. Uma vez por semana tinha um programa de humor, onde o apresentar sorteava
algum cidadão para ser humilhado em rede nacional provocando gargalhadas dos futuros
humilhados.

 Não existiam mais construções de estradas, prédios, parques, casas nem músicas animadas e
comidas com bons temperos. Passávamos dias fazendo relatórios de procedimentos. Duas
vezes por semana tínhamos que assistir a fanfarra da Policia Militar com o “Coronel dos
Telhados” tocando seus instrumentos e em seguida cantávamos o novo hino nacional que
tinha palavras como “ordem, cidadão de bem, mulher foi feita pra servir, família de Deus” –
não consigo lembrar mais nada, só sei que era horrível sem ritmo e sem poesia.

As crianças estudavam em tempo integral e não pediam bênçãos aos pais e avós, elas batiam
continência em seguida colocava a mão no peito e resmungavam algumas palavras
relacionadas à pátria. Eram perfeitos estranhos dentro das casas, sempre lendo livros de leis
sem ilustrações e cores, o semblante delas eram tristes com olhos fundos e pele pálida, não
sorriam, quando os dentes ficavam amostra percebia um amarelado estranho.

Cada dia mais percebia que o país estava ficando cinza, as águas dos rios sujas impossível de se
beber, mas bebíamos. O mar também era cinza refletindo o céu. Nossos almoços eram Fast
Food e refrigerantes com muito gás. Nos campeonatos de futebol sempre o mesmo time
ganhava que era do “Sr. Romeu Toma no Jr.” e todos torciam para este time até os que
jogavam contra. Não existia sotaque, todos falavam as mesmas palavras, sem gíria e sem
linguajar típico.

No final do sonho lembro que fui mandado para o muro que separava o país com a missão de
fazer um relatório onde informava as condições físicas do muro. Existia uma grande mata
antes de chegar nele, por ali o ar era limpo, olhando pro céu reparei como o lado do
“Nordeste” o céu era azul e limpo. Já do outro lado ouviam-se gargalhadas e músicas ritmadas.
Deu pra ouvir o som de muita criança correndo e gritando ignorando a presença do muro, eles
se divertiam – pelo menos era o que aquelas gargalhadas denunciavam. O muro estava intacto
nenhuma tentativa de invasão, tudo perfeito.

Eu gritei:

- Ei, tem alguém ai?

- Tem sim – uma voz doce de criança respondeu.

- Como é ai?

- Aqui? Aqui é lindo.

Eu acreditei. Lembrei que crianças não metem.

- Ei você do lado cinza. Vem pra cá!!

- Vocês me aceitariam.

- Claro. Vem moço.

Um suspiro. Estou todo suado. Acordei.

[ Mano Ril ]

Imortal



 Hoje é um bom dia pra chorar. Tivesse eu acreditado que tudo acaba quando a tampa se fecha

cobrindo todo o corpo, após a última prece, as lágrimas e o soluço descompassado, mas não é

ai que acaba. A imortalidade existe e esta presente em casa pulsação do relógio. Somos

imortais. Para alguém somos imortais.

Faz cinco anos que Dona Anita tornou-se imortal, a presença em nossas vidas esta nos cheiros

que vinha dela, nas falas e ainda posso sentir o gosto do tempero da comida preparada com

amor. Nos olhos entristecidos em reprovação por alguma malcriação do filho moleque levado,

quase todos os dias ainda presencio o andar lento com as mãos carregando sacolas cheias e

pesadas. Passo a passo. Lento. Te fez imortal. Imortal porque nunca nos permitiremos

esquecer um dia sequer da tua lavoura, o que plantou foi amor e essa colheita também será

eterna. Claro que vai. E quando for a minha vez de ser imortal terá alguém sentindo a minha

presença e por ventura a tua também, acho que isso se chama continuação...

 Nessa meia década assisti, digeri e ouvi gente que não inspira em nada, fiquei quieto, silêncio.

Respeitei. Mas vomitei todas elas para não serem imortais em mim, pois a imortalidade é uma

faca de dois gumes, luz e treva, amor e ódio e hoje escolho o que quero do meu lado. Poder

aprender com as lágrimas me fez homem forte, quase sem sentimento. Quase.

 Saber que essa matéria que levamos pra todos os cantos enfeitada com broches, anéis,

óculos, camisas, calças, vestidos caros, carros, motos tudo isso acaba, vira cinza. Saber que

dinheiro, casas, joias e perfumes de grife não te torna imortal. Cometo a audácia de dizer que

a imortalidade esta na simplicidade do soprar do vento. Mãe a senhora é vento, quase uma

brisa, serena. Imortal.

 E quando repouso cansado sinto essa brisa tocando em mim. Levemente. Quase

imperceptível. Porque percebo que deve existir alguma lei da balança na vida, conquisto

algumas coisas de um lado e quando olho pro oposto estou perdendo. Perdendo lentamente.

Me sopre brisa, não deixe eu perder.Me diz que não fui criado pra socializar mesmo, diz que

eu não sei fazer política e nem forçar a amizade pra conquistar seja lá o que for, me sopre e diz

que eu é que sou o certo e que o mundo esta todo errado.

 Em meio a sua imortalidade hoje dia 02 de dezembro de 2014 eu só queria me desligar,

desconectar, descansar e esquecer-me em um abraço de Silvia e Mayara.

 Hoje é um bom dia pra chorar.

[ Mano Ril ]

Aniversário todo dia, no vácuo.


 Hoje foi meu aniversário e você não esteve por aqui para me abraçar e ficar junto. Eu nem me importei.
 Você não veio me entregar um presente surpresa, me olhar nos olhos e dizer o quanto me ama e quanto a minha existência é valorosa pra você. Eu nem me importei.

 Justo hoje você não esta aqui para a gente comer algo gostoso e tomar uma bebida gelada. Justo hoje não iremos ouvir a música que conta toda a nossa história e faz a gente ficar abraçados por longos e adoráveis minutos. Justo hoje eu não me importei.

 Amanheci mais velho recebendo ligações, e-mails e notificações em redes sociais tudo muito robotizado, tinha uma mensagem sua por lá e não tinha você por aqui, mas foi o dia de eu ser popular no mundo virtual deixa eu me senti importante, só hoje, afinal... hoje é o meu aniversário e justo hoje você não esta aqui. Não importa.

 Provavelmente quando você chegar já estarei dormindo e por causa do seu zelo comigo  não irá me acordar pra perguntar como foi meu dia de aniversariante. Tudo bem, amanhã eu te conto.

 Hoje foi meu aniversário. Você não esteve aqui. Eu não me importei. Estive contigo quase todos os dias no ano e não seria hoje a data que estragaria tudo.
 Ah, o seu primeiro pedaço de bolo esta no forno e é de chocolate.

 Beijos. 

[ Mano Ril ]

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

- Carta aos meus – Carta 8


Adriana,

 Assim que comecei a colocar essas palavras no papel pensando em você me dei conta de uma 
coisa. A vida tem uma divida com você, ou você com ela. Então minha irmã é hora de alguém 
pagar alguém nessa historia. Resolvam-se e tratem de viver muito e bem.

 Ficou uma lacuna na sua vida, um buraco não preenchido, mas tem uma coisa que descobri. 
Nunca é tarde, nunca será tarde pra nada, sempre podemos viver e fazer coisas que de alguma 
forma nos foi roubada. Que não seja tarde pra aprender andar de bicicleta, jogar videogame, 
beber cerveja, rir a toa feito criança, brincar de boneca com a Duda e tudo isso sempre com 
um olhar de quem diz: “Que se dane vocês e o que vocês pensam”, você foi roubada, Lembra? 
A vida tem dividas com você.

 Mana, toda vez que te olho vejo um reflexo da mãe, você também se tornou uma guerreira 
que sabe das coisas, acho que isso é dom de vocês mulheres. Mulheres mães que sabem 
caminhar, sabe por onde andar, quando tem que falar e quando tem que silenciar, nós homens 
a metade do tempo somos estúpidos e raciocinamos pouco, as vezes só enxergamos nosso 
maldito ego. Perdão.

 Nunca te falei e aproveito o momento pra dizer, você não sabe o conforto que senti quando 
me disse no velório da mãe que Nossa Senhora já havia acolhido-a e que estava tudo bem, a 
mãe estava bem no manto sagrado e que você a viu ser consagrada. Minha fé não chega nem 
perto da sua, mas acreditei, me senti bem e até hoje sinto o alivio. Obrigado.

 Adriana, te escrevo essa carta por que esse costume foi perdido no tempo, e nós só 
demonstramos sentimento de carinho pelos nossos quando os perdemos pro tempo ou pra 
vida, não quero usar as mais belas palavras para algo ou alguém que não esta mais aqui, então 
escrevo.

 Que a vida permita estarmos sempre por perto. Com amor.

Mano Ril

( "Cartas aos meus" é uma série de cartas que escrevi para várias pessoas que nos 

acompanham de perto ou de longe, amigos, parceiros, irmãos... E reticências.)

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

- Cartas aos meus – Carta 7

 Alex,

 Esses dias na sua casa fiquei te reparando por alguns segundos... e no final desses segundos me dei conta do orgulho que sinto de você meu irmão, comprometido com a família, com a Ellen e Emily, você se tornou um bom pai chamando a responsabilidade pra si.

 Às vezes a gente acha que só será motivo de orgulho pra alguém se fizermos coisas importantes aos olhos de terceiros, mas não, não é assim. O número “1” não existe, o primeiro lugar é ilusório e para os tontos, vivemos em um circulo onde cada qual vai exercer sua função e é daí que vira o respeito e reconhecimento. E hoje mano você é o meu exemplo de como posso ser melhor.

 E todo aquele ódio que às vezes surgia na adolescência durante as brigas por coisas bestas e sem sentido, - tão sem sentido que nem lembro os motivos – então, aquele ódio não passava de amor de irmão represado. Eu sempre quis chegar mais perto de você, ser o seu melhor amigo, mas a concorrência era forte, pelo fato de eu nunca ter sido muito bom na bolinha de gude, no soltar pipa o máximo que eu conseguia era dar um “retão” e ver afundar em meio as casas da Vila Inglesa por não saber fazer ela subir, pegar rabeira de caminhão então muito menos, a última vez que tentei doeu, não dava pra te acompanhar.

 Alex, não sabemos que caminhos iremos trilhar no amanhã, mas uma das coisas que não quero perder é essa nossa proximidade, em morar perto um do outro e sempre que sentir vontade aparecer na casa sem avisar, abrir a geladeira sem cerimônia e falar besteiras, que isso perpetue, e que nunca falte oportunidade de dizer “Eu Te Amo meu irmão e tenho orgulho de você.”

  Nessa tarde te escrevo essa carta por que esse costume foi perdido no tempo, e nós só demonstramos sentimentos de carinho pelos nossos quando os perdemos pro tempo ou pra vida, não quero usar as mais belas palavras para algo ou alguém que não esta mais aqui, só por isso escrevo.

 Que possamos caminhar juntos. Com Amor.

 Mano Ril

( "Cartas aos meus" é uma série de cartas que escrevi para várias pessoas que nos acompanham de perto ou de longe, amigos, parceiros, irmãos... E reticências.)